André Baniwa

André Baniwa
Nascimento 1971
São Gabriel da Cachoeira
Cidadania Brasil
Ocupação ambientalista, ativista dos direitos humanos, professor, escritor, político
Empregador(a) Ashoka Empreendedores Sociais, Fundação Nacional dos Povos Indígenas
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André Fernando Baniwa (Aldeia Tucumã-Rupitã do rio Içana, São Gabriel da Cachoeira, 1971) é um professor, escritor, político e ativista indígena brasileiro, uma liderança do povo Baniwa.

Biografia

Pouco depois de nascer sua família saiu da aldeia nativa e se fixou na aldeia de Ipadu Ponta, no rio Negro, onde permaneceram até a década de 1980. Neste período André estudou por dois anos em uma escola evangélica, e em 1988 foi estudar em Manaus na escola agrícola Rainha dos Apóstolos. Voltando à sua aldeia, foi contratado pela prefeitura e passou a lecionar na escola comunitária, a Escola Pamáali Baniwa-Koripako.[1]

Em 1992 participou da criação da Organização Indígena da Bacia do Içana (OIBI), assumindo na primeira diretoria a função de segundo tesoureiro. Em 1996 foi eleito presidente da OIBI, sendo reeleito em 2000 e 2004,[2] e vice-presidente em 2019.[2] Neste meio-tempo foi bolsista da Fundação Ashoka entre 2001 e 2003, e desde janeiro de 2005 é vice-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), com sede em São Gabriel da Cachoeira, onde mora atualmente com a esposa e cinco filhos.[1][2] Foi assistente técnico da FUNAI, um dos fundadores da Organização Baniwa e Koripako e um dos fundadores da Coordenadoria das Associações Baniwa e Koripako, sendo eleito coordenador em 2002. Foi eleito vice-prefeito de São Gabriel da Cachoeira em 2008 e em 2012 foi candidato a prefeito.[3][4]

Em 2015 foi um dos representantes dos povos indígenas brasileiros na 21ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, quando apresentaram dados de monitoramento do aquecimento global e uma proposta de criação de fundo específico que possibilite o uso integrado dos recursos segundo os princípios de desenvolvimento sustentável mantidos pelas tradições indígenas.[5] Em 2017 participou de seminário organizado pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Congresso Nacional para debater as percepções e experiências dos povos indígenas no contexto das mudanças climáticas.[6] Em 2018 foi um dos convidados no ciclo de debates Plataforma 2018: Brasil do Amanhã, organizado pelo Museu do Amanhã, falando sobre a proteção das florestas e da biodiversidade e desenvolvimento sustentável.[7] Em 2020 foi um dos convidados do ciclo de debates Conversas na Crise - Depois do Futuro, organizado pelo UOL e o Instituto de Estudos Avançados da UNICAMP, quando falou sobre as dificuldades enfrentadas pelos povos indígenas do Brasil no passado e no presente.[8] Em 2021 foi um dos convidados de palestra realizada no 10º Circuito de Cinema Infantil de Florianópolis, que teve como temática os povos indígenas.[9] Ainda em 2021 foi um dos convidados do ciclo de debates MIMUS: Múltiplas Infâncias, Múltiplos Saberes, organizado pela Rede Nacional Primeira Infância, falando sobre suas experiências em educação infantil.[10]

Escreveu o livro 25 anos de gestão de associativismo da OIBI para o bem viver Baniwa e Koripako (2018), onde discorre sobre a história e cultura desses povos, o processo de união e articulação política, a luta pela demarcação de suas terras, pela defesa da cultura tradicional e de uma vida sustentável. Para Elvira França, "é uma rica e oportuna obra para quem está interessado em saber a história dos povos indígenas, a partir de uma narrativa feita pelos próprios indígenas. [...] O livro merece ser lido por todos aqueles que se interessam pela área de administração e organização social, além da educação e saúde, assim como os que se interessam pela cultura indígena da Amazônia e do Brasil. Trata-se de um grande presente para os estudos sobre os povos indígenas e de como os Baniwa e Koripako estão vencendo os preconceitos, a discriminação e mostrando seu valor, depois de viverem por tantos anos subjulgados pelos brancos".[11] Também foi autor de Bem viver e viver bem segundo o povo Baniwa no noroeste amazônico brasileiro (2019).[2] É membro da curadoria do portal Ecoa, da UOL.[12]

A Casa Civil da Presidência da República publicou no dia 31/03/2023, no diário oficial da União[13], a nomeação do professor, escritor e líder indígena Andre Fernando Baniwa, de 52 anos. Com isso, ele vai ocupar o cargo de diretor do departamento de demarcação territorial. O órgão está ligado à Secretaria de Direitos Ambientais e Territoriais do Ministério dos Povos Indígenas. De acordo com Marivelton Baré, o presidente da Federação das Organizações dos Povos Indígenas do Rio Negro (Foirn), a nomeação de André Baniwa foi um convite pessoal da ministra do MIP, Sônia Guajajara.

Segundo Elaíze Farias e Elvira França, André Baniwa é um dos mais importantes líderes indígenas do país,[3][11] sendo também uma inspiração para novas lideranças.[11]

A Escola Pamáali

André foi um dos principais idealizadores e coordenador do projeto de implantação da Escola Pamáali,[14] da qual nunca se afastou.[15] Situada na Terra Indígena Alto Rio Negro, no município de São Gabriel da Cachoeira, foi planejada a partir de 1996 e inaugurada em 2000, contando com o apoio da OIBI, da FOIRN e do Instituto Socioambiental. Oferece ensino fundamental e médio, projetos de pesquisa e cursos profissionalizantes em Manejo Agroflorestal, Artes e Administração.[16] A instituição é reconhecida pelo sistema municipal, tem Projeto Político Pedagógico aprovado e recebe financiamento do governo, mas sua gestão é comunitária e seus professores são nativos.[14]

Tem desempenhado um importante papel na preservação da cultura dos povos Baniwa e Koripako,[3][14] duas etnias muito próximas.[15] Muitos dos seus alunos se tornaram professores universitários, em seu redor foi desenvolvido um projeto de fomento e comercialização da arte indígena, um projeto de cultivo da pimenta Baniwa, elemento tradicional da sua cultura, foram publicados livros sobre a pesca, manejo ambiental e seu modo de vida, e foi criado um projeto de fixação da língua Baniwa, a partir do qual foi unificada a grafia e elaborada uma gramática, contribuindo para a adoção da língua como co-oficial do município de São Gabriel da Cachoeira.[3][15] Outros projetos incluem laboratório de informática com internet, laboratório de produção de alevinos de peixes nativos, criação de animais e radiofonia.[14] O ensino dado na escola integra o conhecimento ocidental com os conhecimentos tradicionais do povo indígena, incluindo política, política e educação para a saúde, direitos e movimentos indígenas, ética Baniwa e desenvolvimento sustentável.[16]

Para Nicole Batista, "a escola torna-se um importante espaço para o estudo das cosmologias, das relações entre sociedade nacional e povos indígenas, dos enunciados da cultura, da transmissão do conhecimento, dentre tantos outros assuntos caros à antropologia, ao mesmo tempo em que, fazendo jus a seu objetivo intercultural, interétnico e dual, também traz muitas contribuições para a área da Educação, servindo de referência para se pensar novas metodologias e projetos de escola".[16] Segundo André, "a Escola Pamáali foi pensada pra ser escola Baniwa e o sentido de escola é exatamente continuar formando a pessoa Baniwa culturalmente".[3] "A Pamáali fortaleceu os Baniwa e Koripako. Agora temos vários jovens que estão atuando como lideranças dentro das comunidades e organizações, ou estão fazendo faculdade, mestrado, doutorado. É isso que importa, eles têm ferramentas para se tornarem o que quiserem".[15] Pelo sucesso e repercussão da iniciativa, a Escola Pamáali foi reconhecida pelo Ministério da Educação como uma referência nacional em educação indígena,[3] e tem sido um modelo para a criação de outras escolas semelhantes.[14]

Referências

  1. a b Regina, Cláudia. André Fernando Baniwa. Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, 11/11/2015
  2. a b c d "Líder indígena André Baniwa é entrevistado ao vivo nesta quarta, às 16h". UOL Economia, 01/09/2020
  3. a b c d e f Farias, Elaíze. "Congresso precisa de alfabetização para aprender a ser brasileiro, defende líder indígena André Baniwa". Agência Amazônia Real, 10/07/2019
  4. “Conversas na Crise convida André Baniwa para debater questão indígena e Amazônia". Agência UNICAMP, 02/09/2020
  5. Arini, Juliana. "O Brasil não está inteiro na COP21". Agência Pública, 09/12/2015
  6. "Requerimento de Audiência Pública". Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, 2017
  7. "Plataforma 2018: Brasil do Amanhã - Florestas". Museu do Amanhã, 2017
  8. Garcia, Janaína. "Baniwa: Indígenas reunidos com Salles agiram como capitães na ditadura". UOL Notícias, 02/09/2020
  9. "Povos indígenas no centro do debate". 20ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, 16-31/10/2021
  10. "MIMUS promove debates sobre múltiplas infâncias". Secretaria Executiva da Rede Nacional Primeira Infância, 02/07/2021
  11. a b c França, Elvira Eliza. "Livro da Organização Indígena da Bacia do Içana conta a história da resistência dos povos Baniwa e Koripako". Revista do Instituto Humanitas — UNISINOS, 10/10/2019
  12. Freitas, Camilla, "Semente da educação". Ecoa, 06/09/2021
  13. «DOU - DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, SEÇÃO 1, DE 31/03/2023». 31 de março de 2023. Consultado em 30 de agosto de 2023 
  14. a b c d e Agostinho, Jaime de. "Povo Baniwa e Coripaco comemora dez anos de escola própria". Eco Amazônia, 07/05/2011
  15. a b c d Matuoka, Ingrid. "Educação indígena: olhar integral para os saberes tradicionais e do território". Centro de Referências em Educação Integral, 20/08/2018
  16. a b c Batista, Nicole. "Transitar pelo(s) mundo(s): a Escola Pamáali (Baniwa) e a educação escolar na Amazônia Indígena". In: Revista Internacional de Folkcomunicação, 2020; 18 (40) — Dossiê Folkcomunicação, povos e comunidades tradicionais