Lista de couraçados do Império Otomano
A Marinha Otomana adquiriu ou tentou adquirir uma série de couraçados entre as décadas de 1890 e 1920. A frota sofreu de uma crônica falta de dinheiro no decorrer da década de 1880 que deixou muitos de seus navios obsoletos e em péssimo estado, ao mesmo tempo que sua rival, a Marinha Real Helênica, se fortaleceu. Em resposta, os otomanos iniciaram em 1892 a construção do pré-dreadnought Abdül Kadir, porém a falta de verbas fez com que as obras prosseguissem lentamente até pararem, com o navio nunca sendo finalizado. Ainda desejando fazer frente aos gregos, a Marinha Otomana comprou em 1910 dois couraçados alemães da Classe Brandenburg, que se tornaram o Barbaros Hayreddin e o Turgut Reis.
Os otomanos começaram a procurar mais navios no exterior a partir de 1911, encomendando o primeiro membro da Classe Reşadiye de um estaleiro britânico no mesmo ano. Isto levou a uma corrida armamentista naval com a Grécia, que encomendou dois novos couraçados nos anos seguintes. Em resposta, a Marinha Otomana encomendou um segundo membro da Classe Reşadiye e comprou da Marinha do Brasil um couraçado que também estava sendo construído no Reino Unido, que se tornou o Sultan Osman-ı Evvel. Além disso, o cruzador de batalha alemão SMS Goeben fugiu para o Império Otomano quando a Primeira Guerra Mundial começou em 1914, com ele sendo transferido para a Marinha Otomana e renomeado para Yavuz Sultan Selim.
O Barbaros Hayreddin e Turgut Reis pouco fizeram na Guerra Ítalo-Turca além de proteger Dardanelos, mas foram empregados de forma mais ativa nas Guerras dos Bálcãs, enfrentando a frota grega em duas ocasiões. O Reşadiye e Sultan Osman-ı Evvel estavam sendo finalizados quando a Primeira Guerra Mundial começou em agosto de 1914 e foram tomados pela Marinha Real Britânica, servindo com esta durante todo o conflito. O Barbaros Hayreddin e Turgut Reis não foram muito utilizados, com o primeiro sendo afundado em agosto de 1915 depois de ser torpedeado por um submarino britânico. O Yavuz Sultan Selim foi utilizado principalmente em operações no Mar Negro contra a Marinha Imperial Russa, continuando a servir com as frotas otomana e turca até a década de 1950. O Turgut Reis foi desmontado em 1956 e o Yavuz Sultan Selim em 1973.
Armas principais | Número e tamanho dos canhões da bateria principal |
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Deslocamento | Deslocamento do navio totalmente carregado |
Propulsão | Número e tipo do sistema de propulsão e velocidade máxima |
Batimento | Data em que o batimento de quilha ocorreu |
Lançamento | Data em que o navio foi lançado ao mar |
Comissionamento | Data em que o navio foi comissionado em serviço |
Destino | Fim que o navio teve |
Couraçados pré-dreadnought
Abdül Kadir
A Marinha Otomana sofreu de uma crônica falta orçamentária pelo decorrer da década de 1880, resultado da grande suspeita que o sultão Abdulamide II nutria em relação a oficiais navais, que tinham participado do golpe de estado que depôs seu predecessor Murade V. Consequentemente, a frota otomana ficou rapidamente obsoleta e em péssimo estado de manutenção. A Marinha Real Helênica se fortaleceu durante este mesmo período, fazendo o governo otomano encomendar um couraçado em resposta, que se tornaria o Abdül Kadir. A construção do navio começou em 1892, mas prosseguiu muito lentamente e foi paralisada repetidas vezes por falta de recursos financeiros. As obras pararam definitivamente em 1906, época em que o casco estava apenas parcialmente coberto de placas. Nesta altura os blocos que sustentavam o casco tinham se movido, destruindo a quilha. O navio incompleto foi desmontado em 1909.[1][2]
Navio | Armas principais[3] | Deslocamento[3] | Propulsão[3] | Serviço[3] | |||
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Batimento | Lançamento | Comissionamento | Destino | ||||
Abdül Kadir | 4 × 283 mm | 8 100 t | 2 motores de tripla-expansão; 18 nós (33 km/h) | outubro de 1892 | — | — | Desmontado em 1909 |
Barbaros Hayreddin e Turgut Reis
O governo otomano ainda queria fazer frente à expansão naval grega no final da década de 1900, assim o adido naval alemão em Constantinopla começou em 1909 a conversar com os otomanos sobre a possível venda de alguns navios capitais. As negociações foram longas e por fim os alemães ofereceram os quatro antigos pré-dreadnoughts da Classe Brandenburg ao custo de dez milhões de marcos, com os otomanos escolhendo os dois mais modernos, que se tornaram o Barbaros Hayreddin e o Turgut Reis.[4]
Os dois pouco fizeram durante a Guerra Ítalo-Turca, sendo usados principalmente na defesa de Dardanelos contra ataques italianos.[5] Por outro lado, eles tiveram um serviço bem ativo durante as Guerras dos Bálcãs, falhando em duas tentativas de furar o bloqueio grego de Dardanelos em dezembro de 1912 e janeiro de 1913,[6] além de darem suporte de artilharia para forças terrestres otomanas na Trácia.[7] Também participaram da Primeira Guerra Mundial, com o Barbaros Hayreddin afundando em 8 de agosto de 1915 depois de ser torpedeado pelo submarino britânico HMS E11.[8][9] O Turgut Reis pouco fez durante esse conflito, parcialmente por sua baixa velocidade máxima. Foi transformado em um navio-escola em 1924 e usado como tal até ser desmontado entre 1956 e 1957.[8]
Navio | Armas principais[10] | Deslocamento[10] | Propulsão[10] | Serviço[8][11][12] | |||
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Batimento | Lançamento | Comissionamento | Destino | ||||
Barbaros Hayreddin | 6 × 283 mm | 10 670 t | 2 motores de tripla-expansão; 16,5 nós (30,6 km/h) | maio de 1890 | junho de 1891 | setembro de 1910 | Afundado em 1915 |
Turgut Reis | dezembro de 1891 | Desmontado em 1956–57 |
Couraçados dreadnought
Classe Reşadiye
O governo otomano foi procurar em 1911 mais couraçados para adquirir no exterior. Como não conseguiram encontrar nenhum em construção ou já pronto para compra, a Marinha Otomana encomendou um couraçado dreadnought novo com os estaleiros britânicos da Vickers, que se tornaria o Reşadiye.[12] Seu projeto foi baseado na Classe King George V da Marinha Real Britânica, mas incorporando alguns melhoramentos implementados na sucessora Classe Iron Duke, como uma bateria secundária de canhões mais poderosos.[13] Isso levou a uma corrida armamentista naval entre Império Otomano e Grécia,[14] com esta encomendado dois dreadnoughts nos ano seguintes, fazendo os otomanos encomendarem um segundo navio de mesmo projeto, o Fatih Sultan Mehmed.[15]
Os britânicos adiaram a entrega do Reşadiye em julho de 1914 devido às tensões cada vez maiores na Europa depois do assassinato do arquiduque Francisco Fernando, mesmo os últimos pagamentos já tendo sido realizados.[16] Os britânicos formalmente tomaram o controle da embarcação em agosto para que não fosse adquirida pela Alemanha ou algum de seus aliados.[17] Tudo isto também levou ao cancelamento do Fatih Sultan Mehmed, cujas obras tinha começado um mês antes.[15] A tomada do Reşadiye e do Sultan Osman-ı Evvel criou uma animosidade considerável no Império Otomano contra o Reino Unido.[18] O Reşadiye foi renomeado para HMS Erin e atuou com a Grande Frota durante toda a Primeira Guerra Mundial e realizou principalmente patrulhas no Mar do Norte, mas participou em meados de 1916 da Batalha da Jutlândia. Foi colocado na reserva após o conflito e desmontado em 1923.[13]
Navio | Armas principais[15] | Deslocamento[13] | Propulsão[15] | Serviço[13][15][19] | |||
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Batimento | Lançamento | Comissionamento | Destino | ||||
Reşadiye | 10 × 343 mm | 25 250 t | 2 turbinas a vapor; 21 nós (39 km/h) | agosto de 1911 | agosto de 1913 | — | Desmontado em 1923 |
Fatih Sultan Mehmed | junho de 1914 | — | Cancelado em 1914 |
Sultan Osman-ı Evvel
O Sultan Osman-ı Evvel foi originalmente encomendado de um estaleiro britânico para a Marinha do Brasil como o Rio de Janeiro, porém os brasileiros enfrentaram uma crise econômica entre 1912 e 1913 e se viram incapazes de continuar pagando pelo navio, assim resolveram colocá-lo à venda ainda incompleto, com o Império Otomano fechando a compra em janeiro de 1914.[20][21]
O navio estava quase completo quando a Primeira Guerra Mundial começou, com os britânicos tomando-o em agosto apesar de protestos otomanos. Isto foi feito com o objetivo de impedir que o couraçado fosse usado pela Alemanha ou algum de seus aliados, mas teve a consequência de criar uma enorme animosidade pública no Império Otomano contra o Reino Unido.[22] Foi renomeado para HMS Agincourt e comissionado na Grande Frota, onde serviu por toda duração da guerra. Suas principais atividades foram patrulhas e surtidas, mas participou em 1916 da Batalha da Jutlândia. Foi tirado de serviço depois do fim do conflito e desmontado em 1924.[23]
Navio | Armas principais[24] | Deslocamento[25] | Propulsão[26] | Serviço[25][27] | |||
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Batimento | Lançamento | Comissionamento | Destino | ||||
Sultan Osman-ı Evvel | 14 × 305 mm | 27 500 t | 4 turbinas a vapor; 22 nós (41 km/h) | setembro de 1911 | janeiro de 1913 | — | Desmontado em 1924 |
Yavuz Sultan Selim
O cruzador de batalha alemão SMS Goeben estava no Mar Mediterrâneo quando a Primeira Guerra Mundial começou,[28] fugindo para Constantinopla no início de agosto para que não fosse capturado ou afundado pelos britânicos.[29] Foi transferido para a Marinha Otomana depois de chegar, sendo renomeado para Yavuz Sultan Selim. Isto ajudou a conquistar o apoio público otomano em favor da Alemanha na guerra, especialmente depois do Reino Unido ter tomado o Reşadiye e Sultan Osman-ı Evvel.[28]
O Yavuz Sultan Selim operou principalmente no Mar Negro contra a Marinha Imperial Russa, com suas principais atividades sendo operações de bombardeio litorâneos e escoltas de outros navios, porém em algumas ocasiões chegou a entrar em combate contra navios russos, mais notavelmente na Batalha do Cabo Saric em novembro de 1914. Chegou a enfrentar brevemente forças britânicas em 1918.[30] Depois da guerra passou por reparos e aprimoramentos entre 1927 e 1930.[31] Continuou a servir com as Forças Navais Turcas até ser descomissionado no final de 1950, permanecendo inativo até ser finalmente desmontado entre 1973 e 1976.[15]
Navio | Armas principais[32] | Deslocamento[32] | Propulsão[32] | Serviço[33][34] | |||
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Batimento | Lançamento | Comissionamento | Destino | ||||
Yavuz Sultan Selim | 10 × 283 mm | 25 400 t | 4 turbinas a vapor; 25,5 nós (47,2 km/h) | agosto de 1909 | março de 1911 | agosto de 1914 | Desmontado em 1973–76 |
Referências
Citações
- ↑ Lyon 1979b, pp. 388–391
- ↑ Langensiepen & Güleryüz 1995, p. 140
- ↑ a b c d Lyon 1979b, p. 391
- ↑ Langensiepen & Güleryüz 1995, pp. 16–17
- ↑ Langensiepen & Güleryüz 1995, p. 15
- ↑ Hall 2000, pp. 64–65
- ↑ Erickson 2003, p. 264
- ↑ a b c Lyon 1979b, p. 390
- ↑ Halpern 1995, p. 119
- ↑ a b c Gröner 1990, p. 13
- ↑ Lyon 1979a, p. 247
- ↑ a b Langensiepen & Güleryüz 1995, p. 17
- ↑ a b c d Preston 1985, p. 36
- ↑ Sondhaus 2001, p. 220
- ↑ a b c d e f Mach 1985, p. 391
- ↑ Langensiepen & Güleryüz 1995, p. 29
- ↑ Fromkin 1989, pp. 56–57
- ↑ Hough 1967, pp. 143–144
- ↑ Langensiepen & Güleryüz 1995, p. 141
- ↑ Hough 1967, p. 75
- ↑ Langensiepen & Güleryüz 1995, pp. 17–18
- ↑ Hough 1967, pp. 121, 143–144
- ↑ Burt 1986, p. 250
- ↑ Preston 1985, p. 37
- ↑ a b Sondhaus 2001, p. 220
- ↑ Burt 1986, pp. 245, 250
- ↑ Burt 1986, p. 245
- ↑ a b Hore 2006, p. 72
- ↑ Langensiepen & Güleryüz 1995, p. 28
- ↑ Halpern 1995, pp. 227–258
- ↑ Brice 1969, p. 277
- ↑ a b c Gröner 1990, p. 54
- ↑ Staff 2006, p. 12
- ↑ Gröner 1990, p. 55
Bibliografia
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Ligações externas
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- Portal náutico
- Portal do Império Otomano