Sebastião Leite de Vasconcelos
Sebastião Leite de Vasconcellos | |
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Arcebispo da Igreja Católica | |
Arcebispo titular de Damieta | |
D. Sebastião Leite de Vasconcellos, Bispo de Beja (1907-1919), em 1910, pouco antes da implantação da república. | |
Atividade eclesiástica | |
Diocese | Diocese de Beja |
Serviço pastoral | Bispo |
Eleição | 1 de agosto de 1907 |
Nomeação | Papa Pio X |
Entrada solene | 11 de março de 1908 |
Predecessor | António Xavier de Sousa Monteiro |
Sucessor | José do Patrocínio Dias |
Mandato | 1907-1919 |
Ordenação e nomeação | |
Ordenação diaconal | 30 de maio de 1874 Sé do Porto por Cardeal-Bispo Américo Ferreira dos Santos Silva |
Ordenação presbiteral | 15 de novembro de 1874 Sé do Porto por Cardeal-Bispo Américo Ferreira dos Santos Silva |
Nomeação episcopal | 1 de agosto de 1907 |
Ordenação episcopal | 2 de fevereiro de 1908 Sé do Porto por António José de Sousa Barroso |
Lema episcopal | «Omnibus omnia factus» |
Nomeado arcebispo | 15 de dezembro de 1919 |
Brasão arquiepiscopal | |
Dados pessoais | |
Nascimento | Porto, Sé (Porto) 3 de maio de 1852 |
Morte | Roma 29 de janeiro de 1923 (70 anos) |
Nome nascimento | Sebastião Leite de Vasconcellos |
Nacionalidade | português |
Progenitores | Mãe: Margarida do Carmo e Cruz (1825-1908) Pai: António Leite de Vasconcellos (1819-1894) |
Funções exercidas | -Bispo de Diocese de Beja (1907-1919) -Arcebispo titular de Damieta (1919-1923) |
Títulos anteriores | Conde Romano, Assistente ao Sólio Pontifício e Legado Pontifício |
Assinatura | |
Sepultado | Cemitério do Prado do Repouso, Porto |
dados em catholic-hierarchy.org Arcebispos Categoria:Hierarquia católica Projeto Catolicismo | |
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D. Sebastião Leite de Vasconcellos (Porto, Sé, 3 de Maio de 1852 – Roma, 29 de Janeiro de 1923) foi um arcebispo português. Destacou-se por fundar a Real Oficina de São José do Porto e por contribuir para a vinda dos Salesianos para Portugal.
Biografia
Fez a instrução primária e secundária no Colégio dos Órfãos, no Porto, e no Colégio de Campolide, em Lisboa, entrando, em 1868, para o Seminário Maior do Porto, onde, em 1871, recebeu as Ordens Menores. Foi ordenado presbítero, a 15 de Novembro de 1874, pelo Cardeal-Bispo do Porto D. Américo Ferreira dos Santos Silva e, a 8 de Dezembro, celebrou a sua primeira Missa na Igreja de Santo Ildefonso, na mesma cidade. Exerceu sempre cargos relativos à Câmara Eclesiástica da Diocese do Porto e à Venerável Ordem Terceira de São Francisco do Porto, e, em 1880, fundou a Oficina de São José, tendo como principal objectivo a promoção de menores sem família, incutindo-lhes hábitos de trabalho e assegurando-lhes a formação humana, nomeadamente através da aprendizagem de um ofício e de uma educação moral e religiosa que lhes permitisse garantir o seu futuro na sociedade. O grande inspirador desta obra do então Padre Sebastião foi São João Bosco, fundador da Pia Sociedade São Francisco de Sales, com quem contactou presencialmente em 1882, que teve a mesma acção pelos jovens órfãos em Turim, no Reino da Sardenha.
Sebastião Leite de Vasconcellos era conhecido de Camilo Ferreira Botelho Castello-Branco, 1.° Visconde de Correia Botelho, com quem manteve correspondência. Aquando da morte de Camilo, ocorrida em 1890, o Rev. Leite de Vasconcellos acompanhou a urna do escritor desde a estação ferroviária de Campanhã até à Igreja da Lapa.
Bispo de Beja
Apresentado como bispo da vacante Diocese de Beja por decreto de 1 de Agosto de 1907 e confirmado, a 19 de Dezembro, por bula do Papa Pio X, foi sagrado, por D. António Barroso, na Sé do Porto, a 2 de Fevereiro de 1908, data em que também escreveu a primeira Carta Pastoral, na qual faz uma alusão aos «actos que são de domínio público e que tanto amarguram o coração da nossa Mãe, a Santa Igreja», devido ao estado lastimoso em que se encontrava a diocese, vítima da secular indiferença religiosa.
Tendo tomado posse, por procuração, a 9 de Fevereiro, entrou solenemente na diocese a 11 de Março, na Igreja do Salvador, tendo uma recepção fora do normal, pois, segundo os relatos da época, foi «imponentíssima e grandiosa» e o número de participantes rondava os seis mil. Como gesto de caridade cristã, D. Sebastião vestiu completamente meia centena de crianças pobres da cidade.
A sua primeira preocupação como Bispo de Beja foi a catequização do povo e o levantamento físico e moral do Seminário diocesano. No dia após a tomada de posse, começou a percorrer as paróquias da cidade. Tendo também conhecimento de que os presos da Cadeia Civil de Beja dormiam em más condições, deu-lhes, como esmola, vinte enxergas.
O caso Ançã
Ainda em 1908, Leite de Vasconcellos demitiu dois professores muito influentes do Seminário de Beja, o Padre Manuel Ançã, que, por motivos de disciplina, fora suspenso das suas funções de Escrivão da Câmara Eclesiástica, e o seu irmão, o Cónego José Maria Ançã,[1] que o apoiara. O Ministro da Justiça, Francisco José de Medeiros, invocando a prerrogativa da Coroa (Lei de 28 de Abril de 1845), segundo a qual o facto devia ter sido comunicado ao ministério, exigiu a recondução dos dois professores. O bispo não cedeu, o Governo não quis impor-se e o Ministro pediu a demissão.[2][3]
Este episódio seria bastante prejudicial para o prelado, já que os Padres Ançã (pouco dados ao celibato, vivendo em concubinato com duas mulheres, de quem tinham filhos), vingativamente, acusariam o prelado de ser homossexual. Este caso inspiraria, em 1910, o poema satírico-obsceno e anti-clerical O Bispo de Beja, de Homem-Pessoa, um autor anónimo, talvez pseudónimo do seu editor, Santos Vieira.
Perseguição republicana e exílio
Inicia pelos vários concelhos a sua visita pastoral e, a 28 de Setembro de 1910, dirige-se às freguesias dos concelhos de Moura e Barrancos, permanecendo até ao dia 5 de Outubro, altura em que se deu a proclamação da república.[4] Querendo regressar à cidade, é avisado, pelo Vice-Reitor do Seminário, do lastimoso e inconveniente estado da cidade em estado de revolução, bem como dos desacatos cometidos no Paço Episcopal, do qual foram roubados documentos, móveis e obras de arte que foram queimados em frente da mesma habitação.
Vendo-se impotente e com ameaças de morte, decide refugiar-se em Rosal de la Frontera, Espanha, e, mais tarde, no Seminário de Sevilha, esperando a altura propícia para regressar à diocese. Comunicando, cinco dias depois, a sua ausência ao Ministro da Justiça, bem como as nomeações para Governadores do Bispado (o Vigário-Geral mais dois Cónegos substitutos), o Governo respondeu-lhe, com arrogância, a 21 de Outubro, suspendendo-o de todas as temporalidades, por se ter ausentado sem licença do poder civil, e declarou nulas as nomeações que tinha feito.
D. Sebastião consultou a Santa Sé, a fim de mostrar a sua disponibilidade para renunciar ao bispado, o que não lhe foi concedido. No entanto, o Governo confiou provisoriamente a liderança da diocese ao Arcebispo Metropolita de Évora, D. Augusto Eduardo Nunes.
Embora os bispos portugueses tenham manifestado ao Ministério da Justiça a defesa de D. Sebastião, o Governo, por decreto de 18 de Abril de 1911, destituiu o prelado pacense das suas funções e instaurou contra ele um processo judicial.
Nomeações no exílio e morte
Em Novembro de 1912, D. Sebastião deixa Lourdes, em França, onde residia desde o ano anterior, para ir para Roma, Itália, onde, a 17 de Setembro de 1915, foi nomeado, pelo Papa Bento XV, Assistente ao Sólio Pontifício e Conde Romano, e, a 15 de Dezembro de 1919, foi elevado a Arcebispo titular de Damieta. A 15 de Agosto de 1922, por nomeação de Papa Pio XI, foi Legado Pontifício para a coroação da imagem de Nossa Senhora de Altagracia, protectora do povo dominicano.
A 21 de Setembro de 1916, em Roma, crismou Maria Pyle, norte-americana convertida do protestantismo ao catolicismo que se viria a tornar discípula do santo capuchinho Pio de Pietrelcina.
Morreu em Roma, no Pontifício Colégio Pio Latino-Americano, às três horas da madrugada de 29 de Janeiro de 1923, vítima de pneumonia. As exéquiassolenes, na Igreja de Santo António dos Portugueses, ocorreram a 1 de Fevereiro. Posteriormente, os seus restos mortais foram trasladados para o Porto, onde chegaram a 16 de Novembro do mesmo ano, estando sepultado no Cemitério do Prado do Repouso (jaz no jazigo-capela n.º 52 do cemitério privativo da Santa Casa da Misericórdia do Porto).
Obras literárias
- Conselhos e avisos aos jovens artistas da Officina de S. José para lhes servir de guia no futuro (Porto, 1891)
- Palavras de um exilado (Lourdes, 1912)
- D. Sebastião Leite de Vasconcellos - O Apóstolo da Bondade (Porto, 2023)
Bibliografia
- «Biografia de Sebastião Leite de Vasconcelos (1852–1923)». , Fundação Mário Soares. Página acedida em 18 de Agosto de 2010 .
- Página dedicada a D. Sebastião Leite de Vasconcelos. Página acedida em 10 de Maio de 2024.
Referências
- ↑ José Maria Ançã – Cónego
- ↑ Conflito entre o Bispo de Beja e o Ministro da Justiça
- ↑ A Diocese de Beja no Final do Século XIX: a Intervenção de D. António Xavier de Sousa Monteiro
- ↑ Diocese de Beja. «Diocese de Beja, histórico». Consultado em 16 de agosto de 2010. Arquivado do original em 4 de setembro de 2017
Precedido por D. António Xavier de Sousa Monteiro | Bispo de Beja 1907 - 1919 | Sucedido por D. José do Patrocínio Dias |
Precedido por D. Eduard Karl Gaston Pöttickh de Pettenegg | Arcebispo titular de Damieta 1919 - 1923 | Sucedido por D. Luigi Pellizzo |