Sistema dinâmico contínuo

Um sistema dinâmico contínuo é um sistema dinâmico cujo estado evolui ao longo do espaço de estado continuamente de acordo com uma regra fixa.[1]

Usaremos a notação abreviada x ˙ {\displaystyle {\dot {x}}} , x ¨ {\displaystyle {\ddot {x}}} , {\displaystyle \ldots } para representar as derivadas, em ordem ao tempo, de uma função x ( t ) {\displaystyle x(t)} que depende do tempo, e y {\displaystyle y'} , y {\displaystyle y''} , {\displaystyle \ldots } para representar as derivadas de uma função y ( x ) {\displaystyle y(x)} que depende de x {\displaystyle x} .

Consideremos, por exemplo:


x ˙ = d x d t x ¨ = d 2 x d t 2 y = d y d x y = d 2 y d x 2 {\displaystyle {\dot {x}}={\frac {dx}{dt}}\qquad {\ddot {x}}={\frac {d^{2}x}{dt^{2}}}\qquad y'={\frac {dy}{dx}}\qquad y''={\frac {d^{2}y}{dx^{2}}}}

Equações diferenciais de primeira ordem

Uma equação diferencial ordinária ou em forma abreviada, EDO é uma equação que envolve uma função de uma única variável, por exemplo, y ( x ) {\displaystyle y(x)} , e as suas derivadas; a variável x {\displaystyle x} pode aparecer também na equação.

Se a única derivada que aparece na equação for a derivada de primeira ordem, a equação é designada por equação diferencial ordinária de primeira ordem. Assim, a forma geral das EDO de primeira ordem é F ( x , y , y ) = 0 {\displaystyle F(x,y,y')=0} , mas vamos considerar unicamente as equações que possam ser escritas como uma ou mais equações da forma

y = f ( x , y ) {\displaystyle \color {red}{y'=f(x,y)}}

Dois exemplos de EDO de primeira ordem são os seguintes:

y y cos ( x ) = 3 x y 2 sin ( y ) y ˙ = 3 5 y y {\displaystyle {\begin{aligned}&&y'y\cos(x)=3xy^{2}\sin(y)\\&&{\dot {y}}=3\mathrm {-5y} -y\end{aligned}}}

a função em questão, y {\displaystyle y} nos dois casos, é chamada variável dependente. A variável da qual depende a função é designada de variável independente.

Na primeira equação acima, a variável independente é x {\displaystyle x} . No segundo caso, a variável independente não aparece na equação, mas a partir da derivada y ˙ {\displaystyle {\dot {y}}} torna-se evidente que a variável independente é t {\displaystyle t} .

Uma solução de uma EDO, num dado intervalo, é qualquer função f {\displaystyle f} de uma variável que verifique a equação, quando substituída pela variável dependente.

Campo de direções

Campo de direções da equação y' = y + x , e a solução que passa pelo ponto o (x0,y0)

É possível descobrir muita informação importante sobre as soluções da equação como a partir de uma análise geométrica simples da função

f ( x , y ) {\displaystyle f(x,y)} .

A função f ( x , y ) {\displaystyle f(x,y)} define, em cada ponto do plano ( x , y ) {\displaystyle (x,y)} , o declive que deverá ter uma função y ( x ) {\displaystyle y(x)} que seja solução da EDO.

O campo de direções é um gráfico do plano ( x , y ) {\displaystyle (x,y)} , onde em alguns pontos aparece um vector com declive igual ao valor de f ( x , y ) {\displaystyle f(x,y)} nesse ponto. Assim, as soluções da equação diferencial deverão ser as curvas tangentes a esses vectores. Por exemplo, A figura ao lado mostra o campo de direções da equação y = y + x {\displaystyle y'=y+x} , e uma solução.

Existem, em geral, muitas soluções de uma equação diferencial de primeira ordem. Dado um valor inicial y ( x 0 ) = y 0 {\displaystyle y(x_{0})=y_{0}} , é possível calcular a derivada y {\displaystyle y'} no ponto x 0 {\displaystyle x_{0}} , de acordo com a equação diferencial, a derivada nesse ponto é igual a f ( x 0 , y 0 ) {\displaystyle f(x_{0},y_{0})} .

E geralmente é possível encontrar uma solução particular que passe pelo ponto ( x 0 , y 0 ) {\displaystyle (x_{0},y_{0})} e com derivada igual a f ( x , y ) {\displaystyle f(x,y)} em cada ponto.

O problema de valor inicial:

y = f ( x , y ) y ( x 0 ) = y 0 {\displaystyle y'=f(x,y)\qquad y(x_{0})=y_{0}}

consiste em encontrar a solução particular que passa pelo ponto ( x 0 , y 0 ) {\displaystyle (x_{0},y_{0})} .

Sistemas dinâmicos de primeira ordem

Para introduzir alguns conceitos básicos que serão essenciais , vamos analisar dois sistemas dinâmicos simples: um sistema em queda livre e um circuito RC. Nas próximas seções generalizaremos essa análise ao caso de outros sistemas, que podem aparecer em campos muito diversos, diferentes da dinâmica e da teoria de circuitos.

Queda livre

Consideremos primeiro o caso de um objeto que cai livremente dentro de um tubo com vácuo. Nessas condições, a única força externa que atua sobre o sistema é o seu peso, m g {\displaystyle mg} , e a segunda lei de Newton para este sistema é:

m a = m g {\displaystyle ma=-mg}

A massa do objecto é eliminada nos dois lados da equação, e a aceleração instantânea a {\displaystyle a} é igual à derivada da velocidade, v ˙ {\displaystyle {\dot {v}}} . Assim, obtemos

v ˙ = g {\displaystyle \color {YellowOrange}{{\dot {v}}=-g}}

a aceleração será independente da massa ou forma do objecto, e igual à aceleração da gravidade, g {\displaystyle g} . O sinal negativo é devido a estarmos a considerar o sentido positivo da velocidade (e da aceleração) de baixo para cima.

Campo de direções da equação v ˙ = g {\displaystyle {\dot {v}}=-g}

O campo de direções para a equação diferencial é formado por vetores paralelos, todos com declive igual a g {\displaystyle -g} (figura ao lado).

No gráfico apresentado é fácil ver que as soluções da equação são rectas com declive igual a g {\displaystyle -g} .

A velocidade diminui continuamente a uma taxa de 9.8 m / s {\displaystyle -9.8m/s} cada segundo.

A solução que se mostra na figura anterior corresponde a um objecto que foi lançado verticalmente para cima (velocidade positiva), com uma velocidade inicial de 22 m/s. A velocidade decresce até zero, aproximadamente dois segundos mais tarde, no ponto mais alto da trajetória, e continua a diminuir passando para valores negativos, que indicam que o objecto está a descer.

Se o sistema em queda livre não estiver dentro de um tubo de vácuo, existe outra força externa que não pode ser desprezada: o atrito com o ar. A força de atrito com o ar é sempre oposta à velocidade e depende da forma do objecto e do quadrado do módulo da velocidade.

A expressão matemática para essa força é

F a = 1 2 C d ρ A | v | v {\displaystyle F_{a}=-{\frac {1}{2}}C_{d}\rho \,A\,|v|\,v}

onde A {\displaystyle A} é a área da secção transversal do objeto, ρ {\displaystyle \rho } é a massa volúmica do ar, e C d {\displaystyle C_{d}} é uma constante, sem unidades, que depende da forma geométrica; para esferas, C d {\displaystyle C_{d}} tem o valor de 0.5, e para um pára-quedas circular é aproximadamente 0.8 {\displaystyle 0.8} .

O produto | v | v {\displaystyle -|v|\,v} garante um sentido oposto à velocidade; se o objecto desce, v < 0 {\displaystyle v<0} , e força de atrito será para cima ( | v | v {\displaystyle -|v|\,v} positivo).

Se objeto sobe, v > 0 {\displaystyle v>0} , e a força de atrito será para baixo ( | v | v {\displaystyle -|v|\,v} negativo).

A segunda lei de Newton para o objecto em queda livre é

m v ˙ = m g 1 2 C d ρ A | v | v {\displaystyle \color {blue}{m{\dot {v}}=-mg-{\frac {1}{2}}C_{d}\rho \,A\,|v|\,v}}

Para poder desenhar o campo de direções, será preciso substituir os valores numéricos dos parâmetros.

Alguns valores realistas para um pára-quedista são: C d = 0.8 {\displaystyle C_{d}=0.8} , m = 70 {\displaystyle m=70} kg e A = 7 m 2 {\displaystyle A=7m^{2}} .

A aceleração da gravidade é aproximadamente g = 9.8 m / s 2 {\displaystyle g=9.8m/s^{2}} .

A massa volúmica do ar varia com a temperatura, a umidade relativa e a altura sobre o nível do mar. À temperatura ambiente e alguns metros por cima do nível do mar, a massa volúmica do ar é aproximadamente 1.2 k g / m 3 {\displaystyle 1.2kg/m^{3}} .

Assim, em unidades SI, a equação é igual a

v ˙ = 9.8 0.048 | v | v {\displaystyle {\dot {v}}=-9.8-0.048\,|v|\,v}

Circuito RC

Circuito RC

Um circuito RC é constituído por um capacitor, em série com uma resistência R {\displaystyle R} e uma fonte de tensão com força eletromotriz constante, ε {\displaystyle \varepsilon } .

A soma algébrica das diferenças de potencial nos três elementos do circuito, deverá ser nula. A diferença de potencial na fonte é ϵ {\displaystyle \epsilon } , a diferença de potencial na resistência é R I {\displaystyle R\,I} e a diferença de potencial no capacitor é Q / C {\displaystyle Q/C}

R I + Q C = ε {\displaystyle R\,I+{\frac {Q}{C}}=\varepsilon }

Toda a carga que passa pela resistência, ou sai de uma das armaduras do capacitor, ou é armazenada nessa armadura. Isso implica que a corrente através da resistência é igual à derivada da carga no capacitor. A equação reduz-se a uma equação diferencial para a carga no capacitor em função do tempo

Q ˙ = ε R Q R C {\displaystyle \color {OliveGreen}{{\dot {Q}}={\frac {\varepsilon }{R}}-{\frac {Q}{RC}}}}

Para desenhar o campo de direções, vamos substituir alguns valores típicos dos elementos do circuito:

R = 4 k Ω {\displaystyle R=4k\Omega } , C = 250 n F {\displaystyle C=250nF} e ε = 5 V {\displaystyle \varepsilon =5V} .

Convém usar um sistema de unidades apropriado, para evitar os erros numéricos associados aos números muito grandes ou muito pequenos. Usaremos unidades de micro-coulombs, μ C {\displaystyle \mu C} , para a carga, e o tempo em ms.

Nesse sistema de unidades, e substituindo os valores da resistência, capacidade e força eletromotriz, a equação toma a forma

Q ˙ = 1.25 Q {\displaystyle {\dot {Q}}=1.25-Q}

Sistemas autônomos

Considerando o sistema na expressão :

x ˙ = f ( x ) {\displaystyle {\dot {x}}=f(x)}

Nesse caso a função f {\displaystyle f} não depende da variável independente t {\displaystyle t} . Do ponto de vista físico, a evolução da variável independente não depende do instante inicial; isto é, a partir de uma velocidade inicial o movimento do sistema será exatamente o mesmo, independentemente do instante em que o sistema obteve essa velocidade inicial. Se repetirmos uma experiência de queda livre uns dias mais tarde, o resultado da experiência será o mesmo.

Do ponto de vista geométrico, as soluções formam famílias de curvas idênticas, deslocadas na direção do eixo horizontal. O campo de direções é invariante se for deslocado na horizontal (eixo do tempo).

Esse tipo de equações diferenciais, em que a função f {\displaystyle f} não depende da variável independente, são designadas de equações diferenciais autônomas. São equações muito importantes, pois aparecem em muitos problemas e inclusivamente nos problemas que conduzem a equações não autônomas, é sempre possível transformar as equações num sistema de equações autônomas.

Assim, a partir desta seção vamos estudar unicamente sistemas autônomos, em que as equações do sistema são equações diferenciais autônomas. Um sistema dinâmico autônomo de primeira ordem é um sistema caracterizado por:

  • Uma variável dependente do tempo, x ( t ) {\displaystyle x(t)} , que designamos por variável de estado
  • Uma equação diferencial ordinária, autônoma, de primeira ordem: x ˙ = f ( x ) {\displaystyle \color {Purple}{{\dot {x}}=f(x)}} que define a evolução da variável de estado, a partir de um estado inicial x 0 {\displaystyle x_{0}} , e designaremos de equação de evolução.

Retrato de fase

Os pontos fixos de um sistema dinâmico contínuo, de primeira ordem, são os pontos onde a derivada da variável de estado é nula. Nesses pontos o estado do sistema permanece constante.

O retrato de fase de um sistema dinâmico é um esboço do campo de direções, mostrando os pontos fixos e algumas soluções que começam ou terminam nesses pontos. Os pontos fixos representam-se por meio de um ponto.

Como a derivada x ˙ {\displaystyle {\dot {x}}} num sistema autônomo (equação) depende apenas da variável de estado, x {\displaystyle x} , o declive do campo de direções é o mesmo em todos os pontos com o mesmo valor de x {\displaystyle x} .

Retrato de fase para a velocidade de uma partícula, onde v t {\displaystyle v_{t}} designa a velocidade terminal.

Assim, para representar o campo de direções, basta desenhar a projeção do campo ao longo do eixo da variável de estado (eixo vertical). O retrato de fase será uma linha onde se mostram os pontos fixos e as direções das trajetórias.

O retrato de fase do campo da é apresentado na figura ao lado.

A velocidade terminal obtém-se a partir da equação da segunda lei de Newton para o objecto em queda livre, no ponto em que a derivada for igual a zero

v t = 2 m g C d ρ A {\displaystyle v_{\mathrm {t} }=-{\sqrt {\frac {2\,m\,g}{C_{d}\rho \,A}}}}

Assim, neste caso, existe um único ponto fixo, correspondente à velocidade terminal.

Na região à esquerda da velocidade terminal, do retrato de fase da figura anterior, o lado direito da segunda lei de Newton para o objecto em queda livre é positivo e, portanto, a derivada da velocidade é positiva. Tal fato é indicado pela seta que aponta para a direita.

A solução que se aproxima do ponto fixo (velocidade terminal) pela esquerda, corresponde ao caso em que no instante inicial o pára-quedista está a descer com uma velocidade com módulo maior que a velocidade terminal; o pára-quedas trava a queda até que o pára-quedista alcança a velocidade terminal. O ponto fixo é um nó atrativo; todas as soluções aproximam-se dele.

Retrato de fase de um circuito RC

No caso do circuito RC, que também é um sistema autônomo de primeira ordem, o retrato de fase é semelhante a da partícula em queda.

O ponto fixo é o ponto Q = 1.25 {\displaystyle Q=1.25} , que faz com que a derivada seja nula. É um nó atrativo; a carga no condensador aproximar-se-á de 1.25 μ C {\displaystyle 1.25\mu C} , independentemente do seu valor inicial.

Em geral, o ponto fixo localiza-se em ε C {\displaystyle \varepsilon \,C} . Os valores negativos da carga representam situações em que o condensador encontra-se carregado em modo inverso à bateria.

Método de Euler

Os métodos de resolução numérica de equações diferenciais ordinárias de primeira ordem

x ˙ = f ( x , t ) {\displaystyle {\dot {x}}=f(x,t)}

consistem em calcular o valor da variável de estado numa sequência discreta de instantes { t 0 , t 1 , t 2 , } {\displaystyle \{t_{0},t_{1},t_{2},\ldots \}} , usando alguma estimativa dos valores médios das derivadas durante cada intervalo de tempo [ t i , t i + 1 ] {\displaystyle [t_{i},t_{i+1}]} , a partir da função f ( x , t ) {\displaystyle f(x,t)} que é a derivada instantânea.

Podemos usar uma sequência de instantes t i {\displaystyle t_{i}} igualmente espaçados entre si, com incremento de tempo h {\displaystyle h} :

{ t 0 , t 0 + h , t 0 + 2 h , } t n = t 0 + n h {\displaystyle \{t_{0},t_{0}+h,t_{0}+2h,\ldots \}\qquad t_{n}=t_{0}+nh}

assim, substituiremos a variável contínua x ( t ) {\displaystyle x(t)} por uma variável discreta:

{ x 0 , x 1 , x 2 , } x n = x ( t n ) = x ( t 0 + n h ) {\displaystyle \color {red}{\{x_{0},x_{1},x_{2},\ldots \}\qquad x_{n}=x(t_{n})=x(t_{0}+nh)}}

O sistema contínuo é substituído por um sistema discreto. A equação de evolução desse sistema discreto dependerá do método numérico usado para fazer a estimativa do valor médio da derivada em cada intervalo [ t n , t n + h ] {\displaystyle [t_{n},t_{n}+h]} .

Método de euler para calcular as soluções de um sistema contínuo de primeira ordem.

Existem muitos métodos numéricos para resolver sistemas dinâmicos contínuos. Nesta secção apresentaremos um método muito simples, o método de Euler.

Usando a notação introduzida na equação, a definição da derivada x ˙ {\displaystyle {\dot {x}}} , no instante t n = t 0 + n h {\displaystyle t_{n}=t_{0}+nh} , escreve-se

x ˙ ( t n ) = lim h 0 x ( t n + h ) x ( t n ) h = lim h 0 x n + 1 x n h {\displaystyle {\dot {x}}(t_{n})=\lim _{h\rightarrow 0}{\frac {x(t_{n}+h)-x(t_{n})}{h}}=\lim _{h\rightarrow 0}{\frac {x_{n+1}-x_{n}}{h}}}

Assim, se h {\displaystyle h} for suficientemente pequeno, a equação anterior conduz a uma forma aproximada de calcular x n + 1 {\displaystyle x_{n+1}} em função do estado, x n {\displaystyle x_{n}} , e da derivada no instante t n {\displaystyle t_{n}} .

x n + 1 x n + h x ˙ ( t n ) {\displaystyle x_{n+1}\approx x_{n}+h{\dot {x}}(t_{n})}

Combinando essa aproximação com a primeira equação da seção (método de euler), , obtemos a equação do sistema discreto equivalente:

x n + 1 = x n + h f ( t n , x n ) {\displaystyle x_{n+1}=x_{n}+hf(t_{n},x_{n})}

A condição inicial ( t 0 , x 0 ) {\displaystyle (t_{0},x_{0})} permite-nos calcular ( t 1 , x 1 ) {\displaystyle (t_{1},x_{1})} , usando a equação de recorrência , e assim sucessivamente podemos calcular ( t 2 , x 2 ) {\displaystyle (t_{2},x_{2})} , ( t 3 , x 3 ) {\displaystyle (t_{3},x_{3})} ,etc.

É de salientar que a aproximação que se fez consiste em admitir que o valor médio da derivada x ˙ {\displaystyle {\dot {x}}} no intervalo [ t n , t n + h ] {\displaystyle [t_{n},t_{n}+h]} é igual ao valor da derivada no instante inicial do intervalo.

Do ponto de vista gráfico, o que estamos a fazer é deslocarmos-nos, desde o ponto ( t 0 , x 0 ) {\displaystyle (t_{0},x_{0})} , uma distância h {\displaystyle h} , segundo o eixo t {\displaystyle t} , na direção do campo de direções, como se mostra na figura anterior.

Como mostra a figura, a direção do campo no ponto i {\displaystyle i} já não é a mesma no ponto i + 1 {\displaystyle i+1} e, assim, a curva obtida não segue perfeitamente o campo de direções. Mas se h {\displaystyle h} for suficiente pequeno, obtém-se uma boa aproximação.

Resolução analítica das equações diferenciais

Existem alguns tipos de equações ordinárias de primeira ordem que podem ser resolvidas analiticamente ,as quais veremos a seguir.

Equações de variáveis separáveis

Se a equação tiver a forma

d y d x = f ( x ) g ( y ) {\displaystyle {\frac {dy}{dx}}={\frac {f(x)}{g(y)}}}

é designada por equação de variáveis separáveis. Para resolver este tipo de equação, primeiro observemos que a primitiva da função g ( y ) {\displaystyle g(y)} pode ser calculada da seguinte forma

g ( y ) d y = g ( y ( x ) ) d y d x d x {\displaystyle \int g(y)\,dy=\int g(y(x)){\frac {dy}{dx}}\,dx}

a equação diferencial pode ser escrita como

g ( y ) d y d x = f ( x ) {\displaystyle g(y){\frac {dy}{dx}}=f(x)}

a primitiva do lado esquerdo, em ordem a x {\displaystyle x} , é igual à primitiva de g ( y ) {\displaystyle g(y)} , em ordem a y {\displaystyle y} , como acabamos de ver; assim, temos que

g ( y ) d y = f ( x ) d x + c {\displaystyle \int g(y)dy=\int f(x)dx+c}

Se conseguirmos calcular as primitivas a cada lado da equação, obteremos a solução analítica da equação diferencial.

Equações lineares

Uma equação diferencial linear, de primeira ordem, tem a forma geral

d y d x + p ( x ) y = f ( x ) {\displaystyle \color {Blue}{{\frac {dy}{dx}}+p(x)y=f(x)}}

onde p ( x ) {\displaystyle p(x)} e f ( x ) {\displaystyle f(x)} são quaisquer duas funções que dependem apenas de x {\displaystyle x} (podem também ser constantes).

No caso particular em que a função p {\displaystyle p} for uma constante a {\displaystyle a} , o lado esquerdo terá alguma semelhança com a seguinte derivada

d y d x ( y e a x ) = e a x ( y + a y ) {\displaystyle {\frac {dy}{dx}}(ye^{ax})=e^{ax}(y'+ay)}

consequentemente, se multiplicarmos os dois lados da equação diferencial por e a x {\displaystyle e^{ax}} obteremos:

d y d x ( y e a x ) = e a x f ( x ) y e a x = e a x f ( x ) d x + c {\displaystyle {\begin{aligned}&{\frac {dy}{dx}}(ye^{ax})=e^{ax}f(x)\\&ye^{ax}=\int e^{ax}f(x)\,dx+c\end{aligned}}}

No caso geral em que p {\displaystyle p} depender de x {\displaystyle x} , usaremos a primitiva de p ( x ) {\displaystyle p(x)} em vez de a x {\displaystyle ax} , e o fator integrante pelo qual deveremos multiplicar a equação será

μ ( x ) = exp [ p ( x ) d x ] {\displaystyle \mu (x)=\exp \left[\int p(x)\,dx\right]}

multiplicando os dois lados da equação diferencial por μ {\displaystyle \mu } obtém-se

d d x ( y μ ( x ) ) = μ ( x ) f ( x ) y μ = μ ( x ) f ( x ) d x + c {\displaystyle {\begin{aligned}{\frac {d}{dx}}(y\mu (x))=\mu (x)f(x)\\y\mu =\int \mu (x)f(x)\,dx+c\end{aligned}}}

Equações exatas

Qualquer equação de primeira ordem pode ser escrita na forma [1]

d y d x = M ( x , y ) N ( x , y ) {\displaystyle {\frac {dy}{dx}}={\frac {M(x,y)}{N(x,y)}}}

que conduz a

M ( x , y ) d x + N ( x , y ) d y = 0 {\displaystyle -M(x,y)\,dx+N(x,y)\,dy=0}

esta forma é semelhante à expressão da diferencial de uma função de duas variáveis

d F ( x , y ) = F x d x + F y d y {\displaystyle dF(x,y)={\frac {\partial F}{\partial x}}\,dx+{\frac {\partial F}{\partial y}}\,dy}

Esta equação sugere-nos admitir que existe uma função F ( x , y ) {\displaystyle F(x,y)} cujas derivadas parciais são iguais a M ( x , y ) {\displaystyle -M(x,y)} e N ( x , y ) {\displaystyle N(x,y)} ; no entanto a segunda derivada parcial de F {\displaystyle F} seria

2 F x y = M y = N x {\displaystyle {\frac {\partial ^{2}F}{\partial x\partial y}}=-{\frac {\partial M}{\partial y}}={\frac {\partial N}{\partial x}}}

Assim, para que a conjectura da existência da função F ( x , y ) {\displaystyle F(x,y)} seja consistente, é necessário que as funções M {\displaystyle M} e N {\displaystyle N} verifiquem a seguinte condição

N x = M y {\displaystyle {\frac {\partial N}{\partial x}}=-{\frac {\partial M}{\partial y}}}

nesse caso diz-se que a equação é exata e existirá uma função F ( x , y ) {\displaystyle F(x,y)} tal que a equação diferencial é equivalente à condição

d F ( x , y ) = 0 {\displaystyle dF(x,y)=0}

assim, a solução geral da equação diferencial será a família de curvas

F ( x , y ) = c {\displaystyle F(x,y)=c}

A função F {\displaystyle F} calcula-se encontrando a função cujas derivadas parciais sejam iguais a N ( x , y ) {\displaystyle N(x,y)} e M ( x , y ) {\displaystyle -M(x,y)} .

Equações homogêneas

Uma equação de primeira ordem diz-se homogênea se tiver a seguinte forma geral

d y d x = f ( y x ) {\displaystyle {\frac {dy}{dx}}=f\left({\frac {y}{x}}\right)}

para resolver esse tipo de equação usa-se a substituição

v = y x d y d x = v + x d v d x {\displaystyle v={\frac {y}{x}}\qquad \longrightarrow \qquad {\frac {dy}{dx}}=v+x{\frac {dv}{dx}}}

a qual torna a equação numa equação de variáveis separáveis. Para reconhecer facilmente se uma função racional é da forma f ( y / x ) {\displaystyle f(y/x)} observam-se os expoentes de cada termo no numerador e denominador (soma do expoente de x {\displaystyle x} mais o expoente de y {\displaystyle y} ) os quais deverão ser iguais.

Por exemplo, das duas funções seguintes as duas primeiras tem a forma f ( y / x ) {\displaystyle f(y/x)} mas a terceira não

x y 2 x 3 y x 2 y 2 cos ( x / y ) x y + 5 x y + y 2 + x {\displaystyle {\begin{aligned}&{\frac {xy^{2}-x^{3}}{yx^{2}}}\\&{\frac {y^{2}\cos(x/y)}{xy}}+5\\&{\frac {xy+y}{2+x}}\end{aligned}}}

Equação de Bernoulli

Um tipo de equação diferencial que pode ser reduzida a equação linear, é a chamada equação de Bernoulli, definida por

d y d x + p ( x ) y n = f ( x ) y {\displaystyle {\frac {dy}{dx}}+p(x)y^{n}=f(x)y}

onde n {\displaystyle n} é um número racional, diferente de 0 e de 1. A substituição

v = y 1 n v = ( 1 n ) y n y {\displaystyle v=y^{1-n}\qquad \longrightarrow \qquad v'=(1-n)y^{-n}y'}

transforma a equação de Bernoulli numa equação linear.

Equação de Riccati

Outra equação redutível a equação linear é a equação de Riccati:

d y d x = a ( x ) + b ( x ) y + c ( x ) y 2 {\displaystyle {\frac {dy}{dx}}=a(x)+b(x)y+c(x)y^{2}}

onde a ( x ) {\displaystyle a(x)} , b ( x ) {\displaystyle b(x)} e c ( x ) {\displaystyle c(x)} são três funções que dependem de x {\displaystyle x} . Se conhecermos uma solução particular da equação, por exemplo y 1 {\displaystyle y_{1}} , a seguinte mudança de variável transformará a equação de Riccati numa equação linear [1]

y = y 1 + 1 v d y d x = d y 1 d x 1 v 2 d v d x {\displaystyle y=y_{1}+{\frac {1}{v}}\qquad \longrightarrow \qquad {\frac {dy}{dx}}={\frac {dy_{1}}{dx}}-{\frac {1}{v^{2}}}{\frac {dv}{dx}}}

Referências

  1. a b c [ Introdução aos sistemas dinâmicos. Porto: Jaime E. Villate, 27 de fevereiro de 2007. 204 págs]. Creative Commons Atribuição-Partilha (versão 3.0) ISBN972-99396-0-8. Acesso em 09 julho. 2013.

Ligações externas

Livros

  • Teoria e exercícios práticos de Dinâmica de Sistemas
  • Guía Usuario Vensim

Cursos

  • Curso Basico
  • Curso Avançado
  • Curso Superior

Organizações

  • System Dynamics Society
  • MIT System Dynamics Group
  • The Systems Thinker

Software

  • Vensim
  • AnyLogic
  • iThink/Stella SD Tools

Ver também

  • v
  • d
  • e
Sistemas
Campos
Categorias
  • Sistemas conceituais
  • Sistemas físicos
  • Sistemas sociais
Sistemas
Anatomia
Medição
Cientistas